A entrada no infantário é um marco importante para pais e crianças que levanta muitas emoções. Uma das preocupações mais frequentes dos pais é como tornar a transição casa-infantário o mais suave possível.
A Dra. Alicia Lieberman, psicóloga da Universidade da Califórnia – São Francisco, sugere algumas medidas que ajudam nesta transição:
• Antes da criança começar o infantário, procure conhecer os educadoras e o espaço. Fale com os educadores sobre ela, nomeadamente as suas qualidades e vulnerabilidades, os valores que quer incutir nela e a sua abordagem educativa. Estas informações são muito úteis para os educadores. Informe-os também de acontecimentos importantes na família que podem estar a influenciar a criança (p.e. a morte do animal de estimação, a visita de alguém próximo, etc).
• Familiarize-se com a rotina diária no infantário. Desta forma pode falar com a criança sobre o infantário e perceber melhor as suas experiências.
• Antes de deixar o criança no infantário, procure resolver alguma zanga que tenha surgido de manhã. Estas resoluções ajudam a perceber que os conflitos entre pais e filhos não desfazem a ligação emocional que os une.
• Durante a despedida:
Evite deixar a criança e sair sorrateiramente do infantário. Dê algum tempo para que a criança se habitue ao novo ambiente e despeça-se dela. Na tentativa de evitar que a criança chore, alguns pais aproveitam uma distração ou inventam uma desculpa para saírem rapidamente sem a criança se aperceber. Por outro lado, há pais que ficam por muito tempo com as crianças, adiando ao máximo a despedida. Estas estratégias não são eficazes para suavizar a transição casa-escola. Por um lado, quando os pais mentem às crianças sobre as separações, estas aprendem que não podem confiar neles. Nestas idades, o maior medo das crianças é perder os pais. Assim, algumas crianças ficam muito ansiosas e monitorizam constantemente o ambiente procurando detetar o mais pequeno sinal de uma possível separação. Outras crianças tomam uma posição de indiferença perante os pais tentando, assim, lidar com a incerteza das suas idas e vindas. Por outro lado, ir adiando a despedida e cedendo ao pedido da criança de ficar “só mais um bocadinho” e ao mesmo tempo dizer-lhe que “tem mesmo de se ir embora” pode criar confusão na criança e ao mesmo tempo reforçar a sua estratégia de pedir que fique, pois está a ser bem sucedida.
De acordo com a Dra. Alicia Lieberman, a melhor forma de lidar com a separação é fazer uma abordagem directa e empática da despedida. Assim, pode ajudar muito dizer algo como: “Agora vamos dizer adeus e, mais logo, venho-te buscar. Vou ficar a pensar em ti durante o dia. Diverte-te na escolinha. Até logo!”
o Por vezes, deixar a criança levar na sua mochila um objeto que use em casa ou uma fotografia da família pode ajuda-la em momentos mais difíceis, permitindo-lhe fazer a ponte entre a casa e a escola e perceber que, mais tarde, irá regressar a casa.
o Fale abertamente com a sua criança sobre a escolinha. Deixará assim a porta aberta para que a separação seja um tópico legítimo de conversa.
o Entre em brincadeiras que ajudam a criança a lidar com as experiências de separação, por exemplo, as “escondidinhas” ou esconder objectos e pedir à criança para os procurar. Estas brincadeiras fortalecem o conceito de “permanência do objeto”, isto é, a noção de que as pessoas e coisas permanecem, mesmo quando não as podemos ver.
Por vezes, algumas crianças têm muitas dificuldades em adaptar-se ao infantário e os psicólogos podem ter um papel importante em ajudar a família e os educadores a perceber o que se passa e encontrar soluções para estes problemas. Alguns sinais de alerta são:
• Problemas comportamentais súbitos que duram mais do que alguns dias e não podem ser atribuídos a problemas no ambiente familiar.
• Medo persistente de um educador em particular.
• Recusa persistente em ir para o infantário, especialmente quando é uma recusa súbita e surge depois de a criança já se ter ambientado ao infantário.
• Perda de interesse em aprender e explorar, tristeza e isolamento.
• Repetidas queixas sobre um educador ou colega.
Estas mudanças súbitas no comportamento não indicam, necessariamente, que algo de errado se esteja a passar no infantário. Por vezes, ouvir uma história mais assustadora, ter um confronto com outra criança, ou mudar subitamente de educador, podem estar a origem destas mudanças. É importante que os pais estejam atentos a estes sinais e tentem perceber melhor a experiência da criança no infantário. A colaboração entre pais, educadores e psicólogos é assim fundamental para o sucesso da criança no infantário.